O nascimento de Vênus, a obra atemporal de Botticelli

O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli

Você com certeza já viu essa imagem em algum momento na sua vida. Seja numa propaganda de sabonete ou perfume ou no clipe de uma grande estrela da música americana. Mas você poderia imaginar que O Nascimento de Vênus é uma obra com mais de 500 anos de existência? É realmente impressionante sua capacidade de transcender tantos séculos e ainda representar com tamanha intensidade o amor e a beleza.

Uma obra pagã, inspirada na mitologia da antiguidade clássica que nos emociona e nos inspira até os dias de hoje. Seu artista criador foi o florentino Sandro Botticelli que, na verdade, nunca revelou publicamente os significados e simbolismos intrínseco a uma das suas obras primas. O quadro, que foi pintado em Florença, segue exposto nessa cidade e é, sem dúvida, uma das pinturas que merecem uma apreciação ao vivo, se você tiver chance de visitar a Itália. Por sorte nossa, a Vênus de Sandro pode ser conhecida por nós, simples mortais.

Sandro Botticelli, o criador da pintura

Sandro Boticelli nasceu em Florença na Itália, em 01 de março de 1445, como Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi. Boticelli teria herdado seu apelido de seu irmão mais velho, Antonio, e significava “pequeno barril”. Ele viveu dedicado à pintura durante seus 65 anos de vida, falecendo em sua cidade natal em 17 de maio de 1510. Quando jovem estudante foi colega de Andrea del Verrocchio e Leonardo da Vinci, também foi aprendiz de ourives na oficina de Filippo Lippi, seu primeiro mestre.

Aos 25 anos de idade já abria seu ateliê e se tornaria um dos pintores mais concorridos da época, era um famoso retratista. A família Medici venerava a arte de Boticcelli e lhe encomendou muitas das suas, hoje, famosas obras de arte. Assim como também o Vaticano contratou o pintor para a criação de afrescos na Capela Sistina, como As Provações de Moisés, O Castigo dos Rebeldes e A Tentação de Cristo. Suas obras de inspiração na antiguidade grega, como O Nascimento de Vênus e A primavera, ainda hoje suscitam interpretações por todo o mundo.

Galleria degli Uffizi em Florença, onde está exposto o quadro

Origem e inspiração da obra icônica do Renascimento

O Nascimento de Vênus foi pintada entre 1482 e 1486, com a técnica de têmpera sobre tela e se encontra em exposição na Galleria degli Uffizi em Florença, na Itália. É uma das obras mais representantivas do Renascimento, competindo em fama com a Última Ceia de Leonardo Da Vinci e a Criação de Adão de Michelangelo. Diferente da Monalisa de Da Vinci, que é um quadro surpreendentemente pequeno, O Nascimento de Vênus tem 1,72 m de altura por 2,78 m de largura. Mas de onde vem a inspiração para a criação dessa pintura por Sandro Botticelli?

Pra começar, ela foi encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici para decorar uma das propriedades da família, a Villa Medicea di Castello. Mas a inspiração veio realmente da antiguidade clássica. Boticcelli até então só havia pintado obras de temática religiosa. A influência da mitologia grega e da mitologia romana ganharia vida nas obras do artista florentino, a partir da representação da deusa Vênus, a deusa do amor. Muitos afirmam que sua pintura teve inspiração nos versos dos poetas Ovídio e Poliziano.

Os símbolos e significados presentes na obra

Há quem diga que se trata de uma homenagem ao amor entre Juliano de Médici, irmão de Lorenzo di Pierfrancesco, e Simonetta Vespúcio, uma jovem filha de família nobre italiana que serviu de modelo para o quadro. Mas O nascimento de Vênus é uma obra incógnita até hoje, muitos são só símbolos e significados interpretado ao longo dos anos. O elemento principal, claro, é a deusa Vênus, pintada como uma estátua de mármore, representando uma beleza puramente clássica. A concha do mar aos pés de Vênus, na antiguidade clássica representava a vagina, símbolo da fertilidade. Vênus, segundo a mitologia grega, nasce dos genitais do deus Urano.

Na obra de Sandro Botticelli, a deusa do amor, emerge das águas do mar em uma concha, a sua esquerda lhe sopra para a margem o deus do vento oeste na mitologia grega, Zéfiro, abraçado por sua esposa, Flora, deusa das flores e dos jardins na mitologia romana. As flores que cobrem a Zéfiro e Flora caem do céu e são rosas, a flor do amor, criadas ao mesmo tempo em que nasce Vênus. Quem espera por Vênus na margem é uma Hora, deusa das estações, nesse caso a deusa da primavera, que traz um manto para cobrir a deusa recém-nascida e conduzi-la à morada dos deuses.Um simbolismo indubitável presente na obra é o amor e a beleza.

Simonetta Vespúcio, a modelo de Botticelli

O nascimento de Vênus na cultura pop contemporânea

A obra prima de Sandro Botticelli é uma das mais copiadas e reaproveitadas pela cultura pop contemporânea. A publicidade e a propaganda utilizam com recorrência O Nascimento de Vênus em suas campanhas, a exemplo do sabonete vinólia ou do café Lavazza ou ainda dos perfumes Vivara. A têmpera sobre tela exposta na Galleria degli Uffizi também foi repaginada e estampada em álbuns de música das cantoras Lady Gaga e Azealia Banks, ambos lançados em 2013.

No cinema, a vênus de Botticelli aparece como inspiração para os filmes: em 1962, em 007 Contra O Satânico Dr No, na interpretação da atriz Ursula Andress; em 1988, em As Aventuras do Barão Munchausen, na pele de Uma Thurman; em 1995, na produção holandesa A Excêntrica Família de Antônia. A deusa do amor ainda ganha espaço em um episódio de Os Simpsons, em sua quinta temporada, exibida em 1993 no Brasil. E se você vai à Italia, em uma moeda de 10 cêntimos de euro você também vai dar de cara com uma figura de Vênus.